Qual o valor do “deixar pra lá”?
Sei lá... Nunca havia me feito essa pergunta...
Sempre reagi bem às adversidades, na verdade acho que nunca
havia passado por grandes problemas a não ser os de infância, que por sinal,
naquela época, pareciam o fim do mundo. Hoje crescido acho que sei o que são
alguns problemas maiores e, não serei egoísta ou individualista ao ponto de
dizer que meus problemas sejam os maiores do mundo, é claro que existem pessoas
com dificuldades que têm que enfrentar que não se comparam, mas os meus, pra
mim, já são suficientemente plausíveis de sofrimento. A frase de Caetano Veloso
em “Dom de Iludir” já diz muito: “...Cada um sabe a dor e a delícia de ser o
que é...”
Ao longo do tempo sempre fui bem solitário, mas com muitos
amigos, nunca havia achado o amigo para chamar de “melhor”, sempre esperei para
quando achasse, pudesse dar o maior titulo a ele. Dar o titulo de melhor amigo,
entregar a chave da amizade, doar o tempo, oferecer o que a gente tem de
melhor, presentear com o coração, ofertar a ajuda quando preciso, conceder o
ombro e a alma quando necessário e, acima de tudo deixar transparecer a dádiva
do amor entre duas pessoas distintas, ligadas pelo tempo, por algo maior,
destino, caminhos, semelhanças, pensamentos, ideias e ideais.
Para uma amizade é preciso de pelo menos duas pessoas, não
da pra ser amigo sozinho, não da pra fazer verão com uma andorinha só e, quando
um resolve pegar o caminho contrário ou pular no vagão do trem ao lado com
novos amigos, a gente parte do principio que devemos nos desesperar. Pera ai,
se desesperar é normal, a gente olha e não vê, a gente procura mas o outro não
quer ser achado, o outro esta bem, esta aconchegado, esta agora em um novo lar,
rodeado de gente nova, mas... Eai? Ai entra o “deixar pra lá”... Quanto custa o
deixar pra lá?
O “Deixar pra lá” não costa dinheiro, custa entender, olhar
pra si, olhar pra trás e ver tudo o que se viveu, rir e chorar daquilo que
lembrar, entender que você fez tudo o que podia, mesmo que isso não tenha sido
quase nada, você não terá culpa da pessoa que é, não espere por uma absolvição
alheia, não pense assim, faça levar o que é bom, ajuntar suas coisas, se
levantar, se perdoar e seguir em frente pra próxima estação, onde o trem vai
chegar. Nesse meio tempo você vai aprender a deixar tudo pra lá, vai entender
então, que dessa vida nada se leva a não ser sua própria memória, o ar dos
pulmões e seu coração cheio de esperança e vontade de viver e, se daqui pra
frente eu tiver que perder mais alguma coisa, que seja por eu quis.
“... Não me deixe perceber que eu não te faço mais feliz.
Pode até mentir eu não ligo
Me despiste lentamente eu prefiro...
E se tudo que sobe um dia cai,
E o que começa um dia acaba.
Será que é melhor não começar mais nada
E ficar com os pés no chão?
E se no alto desta escada
Eu me deparar com a contramão?
É melhor não tentar voar
Se eu tenho as asas de um pavão..."
- Pés No Chão - Marcella Fogaça
Deixei pra lá, abri as portas, escancarei as janelas, abri
todo tipo de gaiola, deixei voar, libertei, soltei as amarras, desamarrei,
alforriei, desprendi, desatei, soltei, abri meu coração, doei meu coração mesmo
tendo medo, mesmo morrendo de medo e, tudo que eu pedi e me fora prometido é
que cuidasse dele, o tratasse bem uma vez que o que eu mais temia estava em
jogo. No fim, voou, mas foi pela própria vontade, foi e não parece querer voltar,
parece agora que alcançou a felicidade com novos alguem’s e, isso é algo genuíno,
se agora esta feliz com quem faz bem, não queira de volta, não torture com isso
se você só causava tristezas. Algo está errado, eu sei, já que estou sofrendo,
mas a vida é doar-se pelos outros.
E eu? Ah, deixa pra
lá...
Agora eu estou treinado, estou pronto para viver e não se
envolver, devo o meu obrigado, apesar de tudo, aos responsáveis que de alguma
forma colaboraram, direta ou indiretamente.
Agora é seguir, é voar pro lado oposto, o que não significa
esquecer...
Ah, deixa pra lá...
“... Não seja como a areia
Que escorrega pelos meus dedos
Vai embora enquanto esteja
Distraído com meus brinquedos
Não seja como luz
Invadindo um quarto escuro
Saia pela janela lentamente
Aproveite enquanto eu durmo...”.
- Pés No Chão - Marcella Fogaça
“Obrigado por me amar...
Muitas vezes... cresce e esquece
Mas nós não queremos nos esquecer.”
-Espontâneo - Diante do Trono